Edição 219 - Brasília, 03 de fevereiro a 03 de março de 2019

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Viagem

Encantos e mistérios do México
Uma viagem para ficar na história

Por A.C. Ferreira

Foto: AC Ferreira

Vista da cidade de Guanajuato, México

Terminei meu roteiro de 15 dias naquele belo país navegando em canais repletos de barcos coloridos. Não estou falando da Itália nem das gôndolas de Veneza, e sim das traineiras (um tipo de embarcação em geral utilizada para pesca) de Xochimilco, uma região alagada no entorno da Cidade do México.

Xochimilco pronuncia-se so-tchi-mil-co com o “l” falado com a língua no céu da boca e não como nós falamos o “l” de mal igualzinho ao “ u” de mau. Descobri que no México não basta falar espanhol porque muitas palavras, especialmente nomes de lugares, são da língua náuatl, de origem azteca. E são verdadeiros trava-línguas, como vocês perceberão no decorrer da leitura.

Foto: AC Ferreira

Traineiras de Xochimilco

Antes disso, passei um dia na pequena Taxco de Alarcón, cidadezinha colonial (1529) a cerca de 170 km da capital, famosa pelas lojas que vendem objetos de prata. Entretanto, para mim, turista do cotidiano e da cultura de rua, o “ouro” foi bater perna na cidade. Subi e desci ladeiras, disputando o espaço com as dezenas de táxi-Fusca, nas ruas estreitas, muitas vezes sem calçada e admirando o casario, as igrejas e as pessoas.

E o que veio antes de Taxco? Puebla, para os íntimos porque o nome oficial é Heroica Puebla de Zaragoza e eu nem me aventurei a pronunciar o nome antigo: Cuetlaxcōāpan. Puebla não é nada pequena, quase 2 milhões de habitantes, mas o centro histórico mantém características de cidadezinha antiga, explorei com calma, observando o burburinho das lojas, ambulantes, pequenos shoppings. Fora do centro, mas caminhando a partir dele, cheguei ao parque temático e ao teleférico, que é diferente dos que já conhecia. Nada de bondinho que sobe o morro, em Puebla são duas torres modernas de concreto construídas com diferença de 10 metros na altura para que o sistema funcione. Lá do alto se descortina a cidade numa vista panorâmica espetacular que inclui os vulcões Popocatépetl e Iztaccíhuatl.

Cheguei em Puebla vindo de Guanajuato, essa bem menor, uns 170 mil habitantes, mas não menos interessante. Uma cidade em três níveis, segundo conta o guia de turismo: o da terra, onde estão as ruas e avenidas, o nível panorâmico, cujos caminhos vão subindo a serra que circunda a cidade. E o mais legal, o nível subterrâneo, um emaranhado de vias por debaixo da cidade, por onde passam carro, ônibus, caminhão.

Foto: AC Ferreira

Táxi "morango com chantilly" e casa de Frida Kahlo

Mas tudo começou onde terminou, ou seja, o início da viagem foi na Cidade do México, a capital com seus 30 milhões de habitantes. Lá o metrô tem doze linhas que cruzam toda a cidade, mas mesmo assim vive lotado porque o trânsito na superfície é ainda mais disputado e congestionado. Talvez por essa razão os táxi na capital têm uma combinação de cores que denominei “morango-com-chantilly” que suavizam a visão que a gente tem quando olha aquela aglomeração de carros se arrastando no trânsito lento. Há muita coisa bacana para se ver como o Museu Nacional de Antropologia, a Catedral, a casa de Frida Kahlo e muito mais. Imagina que depois de tentar aprender a falar Tenochtitlán (antiga cidade onde hoje está a capital), tive que perguntar como se chega no castelo de Chapultepec, no bosque de mesmo nome. O Bosque, uma das atrações da CDMX, como se costuma abreviar Ciudad de México, é uma bela e enorme área de lazer, que tem mais que o dobro da área do Central Park de Nova Iorque.

Foto: AC Ferreira

O povo assiste à posse do presidente André Manuel López Obrador

E logo eu cheguei já fui surpreendido pela história. Três dias depois da minha chegada ao país, deu-se a posse de André Manuel López Obrador,ou AMLO, como é mencionado na mídia, ao cargo de Presidente do México, eleito com mais de 50% dos votos. A posse dele foi em espaço público, na praça da Catedral, que eles chamam de Zócalo. O novo presidente abdicou de morar na residência presidencial e mandou abrir o palácio à visitação pública já no dia de sua posse. Também mandou que se vendesse o avião presidencial para usar aviões de carreira. Seu discurso, transmitido pela TV e por telões noutras praças da cidade, foi inclusivo e ecológico, acolhendo todas as etnias, ideologias, credos e causas ambientais e sociais. Estar ali naquele momento foi uma experiência emocionante considerando que, segundo o jornal El País, AMLO foi o presidente mais votado na história do México. Eleito pelo partido de esquerda fundado por ele próprio, o MORENA (Movimento de Regeneração Nacional), que desbancou os tradicionais PRI e PAN que se revezaram no poder por 30 anos, Obrador tem o desafio de reunir o país e atacar os grandes desafios que estão na economia e segurança pública, entre outros. Para mim, o maior desafio estando lá foi pronunciar as palavras em idioma azteca e, na rodoviária de Puebla, tive sorte de estar a caminho de CDMX e não precisei falar o nome de uma cidade cujo nome li no letreiro de um ônibus: Tlalnepantla.

 

AC Ferreira é Administrador, Mestre em Relações Internacionais, fotógrafo amador e “descobridor dos sete mares”.