Edição 219 - Brasília, 03 de fevereiro a 03 de março de 2019

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Fotorreportagem

O espírito do tempo
Cenários ingleses trinta anos depois

Por Carlos Alberto Mattos

Na minha recente viagem à Inglaterra, levei algumas fotos de Londres e Bath, tiradas em 1988, e refiz as imagens, em angulação o mais semelhante possível. Compartilho com vocês a diversão de verificar as alterações ocorridas nesses 30 anos sobre as paisagens e, por extensão, sobre o espírito do tempo.

LEICESTER SQUARE, Londres

Fotos: Carlos Alberto Mattos

Desapareceu o punk de cabeleira amarela, típico dos anos 80. Desmontou-se o banheiro público à direita da foto e mudaram-se as grades da praça por outras de desenho mais elaborado, com flores vermelhas plantadas ao longo de sua extensão. Sumiram os postes-lampiões que ainda davam um toque vintage ao entorno da praça. A fachada do cinema Empire sofreu modificações profundas, ostentando agora o megacartaz de Megatubarão. A copa da árvore que pendia no noroeste da foto, contudo, permanece fiel.

Foto: Carlos Alberto Mattos

 PALÁCIO DE BUCKINGHAM, Londres

Foto: Carlos Alberto Mattos

O sorriso da moça é o mesmo, 30 anos depois. Mas a fachada do palácio recebeu uma boa limpeza e os jardins ficaram mais encorpados. Os carros vermelhos, como no mundo todo, reduziram sua incidência na paisagem urbana. As mesmas grades nunca resistem a três décadas.

Foto: Carlos Alberto Mattos

 RIO AVON E PULTENEY BRIDGE, Bath

Foto: Carlos Alberto Mattos

As árvores cresceram à margem do Avon e hoje encobrem parte dos edifícios que fazem moldura à majestosa Pulteney Bridge. Em 1988 ainda não havia o ancoradouro de barcos de passeio na margem direita. O resto permanece como na era dos romanos em Bath.

Foto: Carlos Alberto Mattos

TERMAS ROMANAS, Bath

Foto: Carlos Alberto Mattos

As Termas Romanas de Bath foram criadas em 75 D.C. e redescobertas em 1775. O que pode mudar em meras três décadas num patrimônio preservado há 1943 anos? Prestando atenção, a gente vê que as botas do soldado e os detalhes da saia se deterioraram bastante. Todas as estátuas ali estão precisando de um banho de loja.

Foto: Carlos Alberto Mattos

ABADIA DE BATH

Foto: Carlos Alberto Mattos

A diferença mais perceptível está na informalidade das roupas dos turistas em 2018, se comparada com as de 1988. No mais, a cafeteria à esquerda perdeu seu toldo e a parede ganhou o andaime horroroso de alguma restauração. A Bath Abbey preserva sua imponência, ladeada à direita pela entrada das Termas Romanas.

Foto: Carlos Alberto Mattos

ROYAL CRESCENT, Bath

Foto: Carlos Alberto Mattos

Na paisagem desse monumental “crescent”, pouco mudou: cresceu mato nas bordas do gramado e há menos visitantes que naquele clique de 1988. Na modelo, tampouco mudou muito além do cabelo e a migração do vermelho do casaco para a mochila. Mas a desatenção do fotógrafo fez a diferença. Eu deveria ter me abaixado mais para nivelar a cabeça da Rosane com o prédio e atentado para a mochila à sua esquerda, e não à direita.

Foto: Carlos Alberto Mattos

BECO DA NEW BOND STREET, Bath

Fotos: Carlos Alberto Mattos

A ruela do centro de Bath sem dúvida ficou menos elegante 30 anos depois. As esquadrias brancas das lojas ganharam coloração mais triste, desapareceu a decoração floral e do simpático canteiro vertical no meio do calçadão só restou o furo no chão. No galã, o cabelo encanecido denuncia a inexorável passagem do tempo.

 

Carlos Alberto Mattos é jornalista e crítico de cinema. Texto publicado originalmente no blog do autor.