Edição 217 - Brasília, 08 de abril a 06 de maio de 2018

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Fotografia

A foto do século 21
O carisma de um líder popular

Por Paulo Lima

Foto: Francisco Proner

Lula nos braços do povo em São Bernardo do Campo

É imensa a força simbólica da imagem que mostra Luís Inácio Lula da Silva nos braços do povo, em São Bernardo do Campo, nas horas que antecederam sua prisão. A foto foi feita por Francisco Proner, um jovem de 18 anos. Louve-se o olhar, o senso de oportunidade, o talento precoce do fotógrafo. Francisco conseguiu um registro que a maior parte dos profissionais leva uma vida inteira para conseguir, sem sucesso. Uma foto que condense um momento histórico de grande relevância.

Quis o acaso que esse instante decisivo tivesse caído nas mãos de um representante das novas gerações. Aqui temos o primeiro signo produzido por esse poderoso instantâneo: o sentido claro de continuidade de um legado. Os comícios de Lula sempre foram capazes de agregar segmentos das mais diversas gerações, das mais distintas origens. Francisco é uma prova desse alcance.

Na foto, nosso olhar converge para seu centro, onde está a figura de Lula, como um vórtice de energia. A avalanche de mãos e braços que tentam tocá-lo provoca a impressão de uma explosão somente vista em performances de bandas de rock, quando o líder normalmente atira-se sobre a plateia. Em política, no Brasil, trata-se de um fenômeno raro, já que, exceto o PT, constituído como um partido de massa, os demais partidos nasceram a partir da decisão de pequenos grupos de interesse, tanto à esquerda quanto à direita.

Contudo, no caso de Lula, a força de seu carisma sempre produziu momentos de grande expressividade imagética, desde os tempos em que era líder sindical. Lula em meio a multidões soa tão natural como o rio que corre para o mar.

Mas a foto de São Bernardo do Campo adquire um grau de importância imensurável porque representa a redenção de um líder popular justamente no instante em que querem destruí-lo. Eis o incrível paradoxo da foto de Francisco Proner: tirada num momento de influxo de liberdade individual, de suposta derrota, ela significa, na verdade, uma vitória da massa, do coletivo. E não há nada que caracterize mais um pecado mortal perante o Estado de exceção que avança a passos largos no país, do que essa noção de popular, de tudo que esteja relacionado à defesa dos interesses dos trabalhadores.

A foto do nordestino e ex-metalúrgico que se tornou o presidente da República mais popular do Brasil, que foi capaz de elevar o país a um nível geral de bem-estar e de conquistas democráticas antes jamais conseguidas, e que hoje está trancafiado em Curitiba como um criminoso, vítima de um processo farsesco, é a imagem mais potente produzida até agora no século 21, no Ocidente, por representar exatamente aquilo que as elites neoliberais negam e querem exterminar.

 

Paulo Lima é jornalista e editor da revista Balaio de Notícias.