Edição 212 - Brasília, 03 de setembro a 01 de outubro de 2017

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Literatura

Era uma vez Josué Montello
O centenário de nascimento do escritor

Por Reginaldo de Jesus

Foto: Reginaldo de Jesus

O autor com Lenka e Lilia, as filhas de Montello, na CCJM

Pondo de lado a modéstia, ou mesmo me valendo dela, posso dizer aqui, sem alterar minha simplicidade, que toda a minha vida, ao ser evocada por um de meus sucessores na Academia, caberá, inteira, no conto de uma linha que Paul Valéry deixou sobre a mesa de Paul Léautaud, ao visitar, ainda moço, este companheiro de geração literária: “Era uma vez um escritor – que escrevia.” (Josué Montello, Diário do entardecer, 5 de agosto de 1975)


No dia 21 de agosto de 2017, comemoramos o centenário de nascimento de um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos: Josué Montello. Mas quem foi mesmo essa figura, tão célebre em seu tempo, e tão desconhecida do grande público, em nossos dias?

Josué de Souza Montello nasceu em São Luís do Maranhão onde viveu sua infância e adolescência. Quinto filho de uma família de oito irmãos, o menino frustrou logo cedo o sonho de seu pai, que queria vê-lo pastor evangélico. Aluno da Escola Modelo e do Liceu Maranhense, escapou de morrer tuberculoso aos quinze anos, idade em que estreou na ficção com um conto sertanejo, sob a influência das novelas regionais de Coelho Neto. Aos dezessete anos, criou seu próprio jornal, A mocidade, do qual fora redator-chefe. Desde cedo, já sabia que sua vocação eram as letras.

Aos dezenove anos, mudou-se para Belém, onde morou por oito meses e publicou seu primeiro livro, História dos homens de nossa história, em parceria com o conterrâneo Nélio Reis. Seguindo o itinerário de Humberto de Campos, vai para o Rio de Janeiro.

Se Josué Montello não chegou aos 100 anos, cronologicamente falando, pois faleceu aos 88 anos, em 15 de março de 2006, podemos dizer que viveu mais do que sua criação, Major Ramiro Taborda, o macróbio personagem de seu romance A vida eterna do Major Taborda – Largo do Desterro, de 1981. O Major Taborda viveu 152 anos e pode ter vivido ainda mais, até que provemos que faleceu na última cena do romance, ao cair da escada de seu sobrado, no Largo do Desterro, em São Luís.

E o que nos leva a pensar que Montello viveu mais que o Major Taborda? Na verdade, o mais operoso romancista maranhense protagonizou muitas existências, seja no âmbito da vida pública, seja no âmbito da vida literária.

A carreira pública de Josué Montello é tão extensa que só mesmo fazendo uma síntese dela. Ao chegar ao Rio, ele foi inspetor do Ensino Comercial. Logo depois, foi aprovado num concurso muito disputado para Técnico em Educação. Foi diretor geral da Biblioteca Nacional; professor da Cátedra de Estudos Brasileiros na Universidade de São Marcos, em Lima, Peru, a mais antiga universidade do continente. Tornou-se subchefe da Casa Civil no Governo Juscelino Kubitschek; regeu as Cátedras de Estudos Brasileiros na Universidade de Lisboa e na Universidade de Madri; foi diretor geral do Museu Histórico Nacional; fundador e diretor do Museu da República, instalado no Palácio do Catete; membro do Conselho Federal de Educação; idealizador e primeiro presidente do Conselho Federal de Cultura; um dos fundadores e reitor da Universidade Federal do Maranhão; criador do Museu Histórico e Artístico do Maranhão; Conselheiro Cultural da Embaixada do Brasil em Paris; Embaixador do Brasil em Paris, junto à Unesco.

Quanto à sua vida literária, Montello foi membro da Academia Maranhense de Letras e membro da Academia Brasileira de Letras, da qual se tornou seu presidente. Como escritor, o substantivo polígrafo cai-lhe muito bem, uma vez que percorreu quase todos os gêneros literários. Foi contista, novelista, romancista, diarista, memorialista, cronista, ensaísta, dramaturgo. Como se toda essa operosidade literária fosse pouca, Montello ainda escrevia seus artigos de jornal e revista. Só no Jornal do Brasil foi articulista por 38 anos ininterruptos. Também foi colaborador assíduo da Revista Manchete. Nunca deixou de escrever seus artigos semanais, ainda que estivesse longe do Brasil, em missão cultural. Deixou uma obra de cerca de 160 livros. E a máxima tão conhecida - "o estilo é o homem" - pode ser aplicada perfeitamente a ele.

Foto: Reginaldo de Jesus
 
O autor ministrando uma palestra na CCJM

Qualquer pessoa que lê a biobibliografia de Josué Montello, faz a pergunta inevitável: como uma pessoa sozinha conseguiu realizar tanta coisa numa só existência? O próprio Montello tem várias explicações para isso. Uma delas é que dormia pouco. Deitava-se tarde e acordava muito cedo. Dizia mesmo que não tinha mais sono por volta das três, três e meia da manhã. Levantava-se e se servia “da munição da madrugada”, isto é, lia alguns livros. Antes mesmo do amanhecer, sentava-se à sua mesa e começava a escrever. Outra explicação é que dificilmente voltava aos postos que já exerceu. Assim, ia vivendo novas experiências em novos postos.

Num de seus aforismos, diz que “é preciso a imaginação da vida, para realizá-la.” E imaginação ele tinha de sobejo. Declara também que seu destino se realizou graças à perfeita obediência à recomendação do livro dos Provérbios, capítulo 4, versículo 13: “Pega-te bem à disciplina, não a largues; guarda-a, porque ela é a tua vida.” Outra recomendação que seguiu à risca foi a de Pisarev: levou a sério os seus sonhos. Por sua vez, “o sonho de menino fez o homem.” (Diário completo, “Ponto de partida”, p. 13) Essa assertiva de Montello coaduna-se com a conhecida “o menino é pai do homem”, conforme o capítulo XI do romance Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Machadiano como era, certamente lembrou-se do Brás Cubas, ao cunhar a máxima que explica o homem que se tornou.

Perto dos oitenta anos, ele declara: “Quando confronto a atividade que tenho hoje com a atividade que eu tinha há vinte, há trinta anos, reconheço que, nesta nova altura da vida, é bem mais intenso o meu trabalho. E por esta razão: antigamente eu partia da convicção de que dispunha de tempo em meu favor, ao passo que hoje, considerando a vida provável que me resta, trato de acelerar-me no que faço ou empreendo, para ter a convicção de que ainda posso concluir a nova obrigação.” (Diário da madrugada, 9 de junho de 1993)

Sobretudo, Josué Montello era um escritor por vocação e aplicação. Sem dúvida, a literatura era a coisa que ele mais amava na vida. Atestam isso sua rica e vasta biblioteca, além da operosidade de sua pena e da variedade de gêneros literários em que deixou sua marca. Provavelmente, nenhum escritor brasileiro publicou mais livros do que ele pela editora Nova Fronteira. Quando olhamos para a extensão de sua obra, logo compreendemos por que sua biografia poderia ser resumida, como ele queria, no conto de uma linha de Paul Valéry: “Era uma vez um escritor – que escrevia.” E se a opinião do próprio Josué Montello sobre si mesmo parecer muita presunção, é suficiente recorrermos a um artigo de Carlos Drummond de Andrade para o Correio da Manhã, por ocasião do aniversário de cinquenta anos de Montello. Leiamos o remate dessa crônica:

“Alegra ver em seu cinquentenário – tenho que acreditar – que o rapazinho amadureceu tão depressa – a energia do esforço intelectual, a autoexigência, a consciência do ofício literário, que é um aprender contínuo, um eterno passar a limpo experiências próprias, confrontadas com experiências universais através da leitura, da escrita, entre silêncios e mistérios da criação. Ele encarna o homem de letras na sua devoção a uma coisa abstrata, que foi marcando os degraus de sua carreira no século, e essa coisa é a literatura. Josué Montello, escritor: fez por merecer o título, desde aquele dia em que, menino de São Luís, juntou as tábuas de pinho de dois caixotes, e com elas construiu sua primeira mesa de trabalho, ou seja, um laboratório de sonhos lúcidos.”

Não obstante Montello ter encarnado um homem de letras, tão devotado à sua pena, como asseverou Drummond, houve quem o censurasse por ele ter escrito muito. Proust deporia a seu favor com a mesma alegação que fez a Edmond Jaloux, em carta, quando chamou a atenção desse amigo para o fato de que a fecundidade de um escritor é diretamente proporcional à regularidade de sua escrita. Contudo, o mestre de Os tambores de São Luís tem suas próprias justificativas para o imenso volume de sua obra. Numa delas, ele declara:

“No painel das vocações literárias, há os que nasceram para escrever um livro, e com isso se exaurem; mas há os que pretenderam realizar uma obra, buscando alcançar a perfeição inatingível. Incluo-me naturalmente entre estes, reconhecendo que somente a obra, no seu conjunto, poderia corresponder ao meu projeto literário.” (Prefácio do Diário do entardecer, p. 940)

Outra justificativa contundente é o que ele diz em seu Diário da madrugada, 24 de maio de 1994: “Montesquieu se queixava, não do gosto, mas da doença de fazer livros, e envergonhava-se, depois que os fazia... De mim para mim, reconheço: não tenho essa queixa nem essa vergonha, porque escrevo os livros que me dão prazer, já que exprimem o que senti e o que pensei, e eles não me envergonham porque se ajustam à verdade de minha condição.”

Entretanto, a justificativa mais poética e tão reiterada em seus diários é a seguinte:

“Acabo reconhecendo que, para ser eu próprio, deixo no papel minhas vivências , sob forma de personagens, nos meus romances, ou de afirmações conclusivas, nos meus textos avulsos. E a verdade suprema é que a palavra escrita, com que me derramo na página em branco, é o excesso de vida que me sufocaria se não o visse diante de mim, na página literária. Quer isso dizer que sou escritor por excesso de vida.” (Diário da madrugada, 21 de outubro de 1991)

A julgar pelo fato de Josué Montello ter escrito até o ocaso de seus dias, nesta existência, pois em 2001 escreveu seu último romance, A mais bela noiva de Vila Rica, vemos que seu excesso de vida, traduzido em seu constante diálogo com a pena e o papel, durou até quando teve saúde. Sobre Montello, poderíamos afirmar a mesma coisa que Domício da Gama disse a Machado de Assis, em carta: “Você é, mal comparando, como a aranha, que dá teia enquanto vive.” (Diário da Manhã, 27 de março de 1957)

Mesmo cientes do quanto Josué Montello era disciplinado e aplicado em suas atividades da vida pública e da vida literária, ainda assim insistimos em nos perguntar: como um ser humano sozinho poderia ter lido tanto e escrito tanto numa só existência? E mais uma vez ele nos responde. Sobre suas leituras: “Não sei o que seria de mim sem os livros. Desde a adolescência eu os tenho ao alcance da mão.” (Diário da Manhã, 17 de abril de 1955) Mas, de vez em quando, lhe batia um certo desespero por saber que mesmo que vivesse tanto quanto seu Major Taborda, não teria tempo de ler e reler certas obras de sua imensa biblioteca. E, se fosse possível, voltaria como fantasma, na calada das madrugadas, para continuar a ler seus livros. Já quanto à sua escrita, ele nos diz:

“Para mim, ao contrário do que estabeleceu a lei mosaica, todo dia é dia de trabalho, incluindo o sétimo. […] Basta-me sentar a esta mesa, diante da página em branco, para que meu cérebro se alvoroce, no ato quase compulsivo de criar literariamente. Ao contrário do personagem machadiano, que olhava a cada momento o calçado luzidio enquanto perguntava a si mesmo se a felicidade seria um par de botas, sei que, no meu caso, a felicidade é este aflorar da página literária ao lume do papel, na composição de um novo texto.” (Diário da noite iluminada, 28 de setembro de 1983)

A despeito da profusão de sua pena, Josué Montello sentia-se desempregado quando terminava a escrita de um romance, gênero com o qual ele mais se identificou. Todavia, na maioria das vezes, antes mesmo de concluir um romance, ele já tinha não só o fiat genésico de outro, mas também seu entrecho, suas personagens e até seu título provável. Segundo Montello, sua obra romanesca é resultado de sua vivência maranhense.

De fato, de seus vinte e seis romances, quinze são ambientados no Maranhão. Um crítico, Franklin de Oliveira, seu contemporâneo e conterrâneo, denominou essa fase de sua obra de saga maranhense e é nela que encontramos o que há de melhor na sua pena romanesca. Romances como Os degraus do paraíso, Cais da Sagração, Os tambores de São Luís e Noite sobre Alcântara, por exemplo, tornam Josué Montello um romancista universal.

Em 1987, na França, o romance Os tambores de São Luís, sua obra-prima, foi considerado obra representativa da humanidade. Fora da saga maranhense, podemos afirmar que dois de seus romances são tão magistrais quanto os supramencionados. São eles A luz da estrela morta e Antes que os pássaros acordem. O primeiro foi super elogiado por ninguém menos que Otto Maria Carpeaux; já o segundo, foi eleito pelo próprio Montello como uma de suas melhores criações.

Foto: Reginaldo de Jesus 

Uma família montelliana na CCJM

Mas como explicar que um escritor tão prolífico e famoso como Josué Montello, que fez a obra, o nome e o público, durante décadas, não seja tão conhecido pelo público de hoje, se faz apenas onze anos de sua ausência física? Em seus diários há uma série da máximas que explicam esse fato. Vamos a algumas delas:

“O tempo, à medida que vai fluindo, deixa-nos sempre esta lição de humildade: esmaga e pulveriza as glórias mais retumbantes.”(Diário da noite iluminada, 3 de novembro de 1983)

“Eu, desde cedo, aprendi em Gide a melhor lição. O silêncio de meu nome e de minha obra não me preocupa. Só espero ganhar meu processo na hora da revisão.”(Diário da noite iluminada, 26 de janeiro de 1984)

“A fama de hoje, por mais retumbante que seja, é o esquecimento de amanhã.”(Diário de minhas vigílias, 2 de dezembro de 1985)

“Nós, escritores, devemos nos preparar, desde cedo, para o ocaso dos silêncios, se a vida nos permitir chegar até lá. Nessa hora, já são outros os valores intelectuais. É natural que nos esqueçam, ou nos omitam. Mesmo os valores excepcionais, cuja obra traga em si a continuidade polêmica, só recebem da posteridade, como quinhão de glória, o módico direito de umas páginas, se houver seletas que as recolham. Até restar deles apenas o nome, que o tempo implacável também apagará.”(Diário de minhas vigílias, 12 de fevereiro de 1987)

“Em geral, as glórias literárias morrem primeiro nos grandes centros; depois é que se exaurem e extinguem na província.”(Diário da madrugada, 5 de agosto de 1995)

Tomando essa última sentença como parâmetro, diríamos que a glória literária de Josué Montello ainda não se exauriu em sua província. Em mais uma de suas reminiscências, ele diz: “Foi Afrânio Peixoto quem reconheceu, numa de nossas conversas do cair da tarde, na Biblioteca Nacional, no gabinete de Rodolfo Garcia, que todos nós, escritores, corremos um grande risco, quanto à glória póstuma, se não dispomos de uma província, para qual realmente escrevemos. É esta que se lembra de nós, depois que nos vamos, e ainda nos põe o nome numa placa de rua.” (Diário da madrugada, 22 de agosto de 1991)

Montello tem mais do que seu nome numa placa de rua, em São Luís, sua província. Além de outras homenagens, ele recebeu ainda em vida a maior delas: a criação da Casa de Cultura Josué Montello, para qual doou sua biblioteca quase completa, seus prêmios e riquíssimo arquivo pessoal. E essa Casa de Cultura vem realizando um trabalho magnífico para manter sempre viva a memória de seu patrono. Sua diretora, Joseane Souza, e a bibliotecária, Wanda França, verdadeiras colunas humanas da Casa, articulam atividades que vêm mantendo aceso o nome de Montello, não só na capital mas também noutras cidades do Maranhão, principalmente através das exposições itinerantes.

E como não haveria de ser diferente, neste ano do centenário de Josué Montello, a Casa de Cultura protagoniza as homenagens ao centenariante. Mas elas começaram na Academia Maranhense de Letras, instituição da qual Montello foi membro, antes mesmo de ser eleito para a Academia Brasileira de Letras. A AML pretendia fazer um ciclo de palestras sobre a vida e obra de Josué Montello, do qual participariam, entre outros palestrantes, dois acadêmicos da ABL, a saber: Antonio Carlos Secchin e José Sarney.

Infelizmente, só houve uma palestra desse ciclo. No entanto, o público que foi à Rua da Paz, endereço da AML , no Centro Histórico de São Luís, às 19h, do dia 17 de agosto, maravilhou-se com a bela palestra da escritora Arlete Nogueira da Cruz sobre alguns romances de Josué Montello. Arlete é viúva do grande poeta maranhense Nauro Machado e foi amiga muito próxima de Montello. Outra coisa muito especial dessa noite, foi o lançamento do livro A saga romanesca de Josué Montello, de Franklin de Oliveira, organizado e prefaciado por ela. A publicação saiu pela editora Contracapa, do Rio de Janeiro, e terá circulação nacional.

De 21 a 25 de agosto, acontecerá a VII Semana Montelliana, na Casa de Cultura, como parte das comemorações do Centenário de Nascimento de Josué Montello. Como cereja do bolo, estarão presentes Lenka Montello e Lilia Montello, as filhas do escritor, além de Horácio Amaral, esposo de Lilia e um verdadeiro filho para Montello. A programação é muito vasta e engloba lançamento de um concurso artístico e literário, cerimônia de fundação de um Grupo de Escoteiros do Ar Josué Montello – GEArJoMo, palestras, lançamento de livro, exposições, apresentações musicais, apresentações de trabalhos acadêmicos, visitas guiadas, exibição de vídeo-documentário, apresentações teatrais.

Nos dias 30 e 31 de agosto, haverá um Seminário Literário na Fundação de Memória Republicana, no antigo Convento das Mercês; de 11 a 15 de setembro, exposição e palestras na UFMA; de 3 a 6 de outubro, Colóquio em Timon, organizado pela professora Doutora Silvana Pantoja; de 25 a 27 de outubro, exposição e palestras na UEMA; de 27 de outubro a 5 de novembro, Seminário Literário de Imperatriz – SALIMP; de 20 a 26 de novembro, Semana do Teatro no Teatro Artur Azevedo, com duas peças sobre os respectivos romances de Montello: Caís da Sagração e Os tambores de São Luís. Urge acrescentar que a Casa de Cultura dará sua contribuição em todos esses eventos.

Como vemos, comemorações não faltarão no Centenário de Josué Montello, em sua província, e noutras cidades maranhenses. Destarte, podemos dizer em coro com alguns dos personagens de sua saga romanesca: “Não há Maranhão como este.” Tudo leva a crer que se dependeres de tua terra natal, Montello, sempre serás lembrado.

Mas quem pensar que só o Maranhão guarda a memória de seu filho ilustre, está redondamente enganado. Vez por outra, somos surpreendidos por algum e-mail de um(a) leitor(a) de Josué Montello, morador(a) de algum canto distante desse imenso Brasil. Normalmente esse(a) leitor(a) descobriu na internet alguns de nossos textos sobre Montello, publicados na revista eletrônica Balaio de Notícias. Outras vezes, é o pessoal da Casa de Cultura que nos indica para alguns desses(as) leitores(as) que visitaram a Casa e gostariam de dialogar com outros(as) montellianos (as). Em momentos como esses, Montello tem toda razão quando pontifica:

“Um autor morto revive, com a sua sensibilidade, as suas emoções, o seu pensamento, sempre que lemos uma de suas obras. Nesses casos, a leitura é, de fato, uma ressurreição.” (Diário da noite iluminada, 6 de maio de 1983)

Outrossim, levemos em conta o fato de que Josué Montello conseguiu ser mais modesto que seu mestre, Machado de Assis. O Bruxo do Cosme Velho dizia contentar-se com apenas cinco leitores de Stendhal, para a leitura de seu romance Memórias Póstumas de Brás Cubas. Já Montello, na introdução geral de seu Diário completo, declarou que se contentaria com um leitor. Suas fichas seriam apostadas nesse único leitor que, identificado com sua obra, traria outros leitores para essa obra.

Vida longa a Josué Montello!

 

Reginaldo de Jesus é professor de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira do IFS - Campus São Cristóvão. Contato: [email protected]