Edição 207 - Brasília, 16 de outubro a 13 de novembro de 2016
Poesia
Por Beatriz Azevedo
eu enxergo no escuro a luz que a noite revela
o feio que é força bela
e ela que nem sabe a beleza da fera
eu navego no futuro para onde o navio me leva
um anjo me carrega e de cima eu vejo a terra
eu vejo a fome eu vejo a fama nada me engana
tudo se rebela e movimenta quando a gente ama
eu enxergo no escuro a luz que me cega
tão cedo o sol chega para as pessoas certas
novas ovelhas que cortam as orelhas
eu vejo novas abelhas em flores velhas
todas as cores dele na gravata amarela
eu vejo a fome eu vejo a fama nada me desespera
tudo se rebela e movimenta quando a gente erra
eu escorrego no escuro que a luz projeta
cinema você tem que ver na tela
a tua cara mascarada de novela
no teatro é mascara da tua própria cara
coisa clara como parábola de profeta
a posia é uma arte exata
que salta acrobata da boca do poeta
Beatriz Azevedo é poeta, cantora, compositora e multiartista. Além de criar parcerias musicais com Augusto de Campos, Cristóvão Bastos, Vinícius Cantuária e Zélia Duncan, musicou Hilda Hilst, Oswald de Andrade e Raul Bopp. As composições de Beatriz Azevedo já foram gravadas por Adriana Calcanhotto, Celso Sim, Tom Zé, Vinícius Cantuária e Zé Celso, entre outros. Escreveu os livros Antropofagia – Palimpsesto selvagem (Ed. Cosac Naify) e Peripatético (Ed. Iluminuras), este último de poesia, do quale foi retirado o poema acima.