Edição 204 - Brasília, 03 de abril a 01 de maio de 2016
Música
Por Paulo Lima
Foto: Paulo Lima
A cantora Tulipa Ruiz, durante apresentação na Caixa Cultural em Brasília
Tulipa Ruiz é uma força da natureza. À sua figura vistosa soma-se uma voz poderosa, a um só tempo doce e forte, que impressiona como uma rara demonstração de talento. Os brasilienses tiveram a oportunidade de vê-la neste fim de semana no teatro da Caixa Cultural, durante quatro apresentações.
Foi um show em família. O pai de Tulipa, Luiz Chagas, é um exímio violonista, e segurou com maestria a onda do acompanhamento melódico das canções. O irmão de Tulipa, Gustavo Ruiz, no segundo violão, completou a santíssima trindade para lá de musical.
Tulipa entra no palco pisando mansinho. Engana-se quem imaginou que a apresentação manteria um tom intimista, no estilo voz e violões. Tulipa se agiganta à medida que o repertório avança. Combinando divertidas encenações corporais “tulipianas” com a dose certa de humor, ganhou fácil a plateia. Na verdade, já havia ganhado desde que conquistou seu espaço no hall da nova safra de cantoras brasileiras que, a despeito da tradição, fazem seu próprio caminho com originalidade. Detalhe: Tulipa levou um Grammy Latino de melhor artista revelação em 2015 com o álbum Dancê.
O show começou com canções de uma pegada blueseira. Depois outras levadas foram sendo reveladas. Pegada funk e até texturas musicais que lembram a cena alternativa paulistana dos 80. Tulipa é isso tudo. E mais a ótima qualidade poética das letras que falam de amor, encontros e desencontros, com pitadas de erotismo e ironia fina.
Tulipa fez um show dentro de um show, interagindo de forma inteligente com o público. Lá pelas tantas, desceu do palco, rodou pela plateia e pôs a moçada pra cantar em duo com ela.
Não faltou um pequeno púlpito em defesa da racionalidade neste momento tenso, quando a artista manifestou-se politicamente. A plateia veio abaixo. Se depender da inteligência de Tulipa, #nãovaitergolpe.
Ah, como se não bastasse, Tulipa é ilustradora. E das boas.
Grande e imprescindível Tulipa Ruiz.
Paulo Lima é jornalista e editor da revista eletrônica Balaio de Notícias.