Edição 201 - Aracaju, 13 de setembro a 11 de outubro de 2015

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Reportagem

Cordilheira dos Andes
Região abriga cenários de grande beleza

Por Luciana Tancredo

Foto: Luciana Tancredo

Parque Nacional Talampaya

 

A belíssima região da Cordilheira dos Andes, no centro-norte da Argentina, é desértica, rica em cores e formas. Com vegetação e fauna muito específicas, acaba sendo um verdadeiro paraíso para fotógrafos, aventureiros e turistas amantes da natureza. Curiosamente, a região é muito mais conhecida por suas inúmeras vinícolas, com vinhos premiados internacionalmente, que dão fama a cidade de Mendoza, do que por sua geografia privilegiada. Resolvemos então, explorar esse lado mais selvagem e natural em nossa viagem. Percorrendo de carro as províncias argentinas de Mendoza, San Juan e La Rioja, em apenas 20 dias, foi possível visitar cinco parques e reservas naturais.

Teto das Américas

O Parque Provincial Aconcágua, como o nome indica, é onde está localizado o Cerro Aconcágua, conhecido como o teto das Américas, o pico mais alto do ocidente, com 6.962m. O parque fica perto da fronteira com o Chile, na altura do Paso Los Libertadores. O cenário neste ponto é bem diferente, com montanhas multicoloridas, lagunas de um azul profundo, e os eternos picos nevados. Uma caminhada de pelo menos duas horas leva o visitante até a Laguna Horcones, de onde se pode ver o Aconcágua ao fundo. O passeio é imperdível.

A cidadezinha de Uspallata é a base para se programar passeios na região: pequena, porém simpática, é cheia de lojinhas, restaurantes, hotéis de todos os tipos e agencias oferecendo cavalgadas, jornadas de mountain bike, quadriciclo e trekking. No Vale do Rio Mendoza, onde cânions, falésias e rochas misturam as cores vermelha, amarela e laranja, margeando o rio azul claro, não se pode deixar de visitar a Puente del Inca, o Cristo Redentor e o Cementerio del Andinista.

Observatórios

De Uspallata fomos direto para Barreal, cidade bucólica que serve de base para se visitar o Parque Nacional El Leoncito. A cidade fica no Vale da Calingasta, já na província de San Juan, às margens do Rio de Los Patos. É bem turística, com inúmeras pousadas cercadas por alamedas com árvores frondosas. Essa já é numa região de pré-cordilheira, e o parque abriga dois dos mais importantes observatórios astronômicos do país: o Casleo e o Observatório Felix Aguillar. Poucos lugares no mundo podem se vangloriar de ter essa qualidade de céu apresentada na região.

Além dos observatórios, o parque contempla uma grande área de rica vegetação, com espécies só encontradas ali como um arbusto conhecido como Retamo. E é lá também que fica o curioso barreal blanco, um gigantesco espaço de terra batida de 10km de comprimento, tão seca que mais parece uma paisagem árida do nordeste brasileiro. Esse barreal se originou do fundo de uma antiga bacia lacustre, e onde os ventos em determinada época do ano chegam a 100km/h, o que permite a prática do Carrovelismo.

Ischigualasto e Talampaya

Continuando a viagem, seguimos para San Augustin de Valle Fértil, outra simpática cidadezinha que serve de ponto de partida para visitar dois dos nossos principais destinos, os parques do Ischigualasto e o Talampaya, ambos os parques pertencem à mesma formação geológica, e foram declarados Patrimônio Mundial pela Unesco em 2000.

O Parque Provincial Ischigualasto, com destaque para suas diferentes formações rochosas, com cores e texturas que variam do branco ao alaranjado, passando pelo vermelho e marrom, guarda paisagens que se assemelham a superfície lunar. São 40km percorridos de carro (com guia) dentro do Parque parando e cinco estações, com paisagens bem marcadas: El Gusano, Valle Pintado, Cancha de Bochas, El Submarino e El Hongo. Com pouquíssima vegetação, o parque é habitado por guanacos e zorritos fáceis de serem avistados.

Bem próximo dali, está o Parque Nacional Talampaya. Além de seus gigantes cânions vermelhos, com cerca de 150m de altura e inúmeros desfiladeiros de arenito, esse parque é repleto de inscrições rupestres e petroglifos que levam o visitante a uma viagem ao passado longínquo da era pré-histórica. É possível observar uma vegetação bem mais significante, com a presença de árvores gigantes que ficam as sombras do paredão, e também várias espécies de flores e pássaros. O passeio aqui se faz em ônibus 4X4, aberto em cima, com guia, e o circuito é todo feito pelo leito de um rio seco, nos dias chuvosos, não se pode transitar dentro do parque.

Reserva Natural da Laguna Brava

Um pouco mais ao norte, já na província de La Rioja, chegamos em Villa Union, uma cidade tranquila que nos leva a nosso último destino, a Reserva Natural da Laguna Brava, que, em determinada época do ano, é residência de inúmeros flamingos rosados. Infelizmente não pudemos vê-los, pois eles já tinham migrado nessa época. Para se chegar a laguna Brava é necessário passar pelo Departamento Vinchina e contratar um guia local.

O caminho até a laguna é cercado de paisagens coloridas, antigos abrigos gaúchos desativados e montanhas nevadas. Com a ajuda do guia, é possível ver fósseis e indícios geológicos de vida pré-histórica encrustados nos paredões que margeiam a estrada e também passar por pequenas vilas de moradores perdidas entre as montanhas, nas quais as construções de adobe ainda são as mais comuns. A Laguna Brava fica a mais de 4.400m de altitude e faz parte de um sistema de lagunas andinas de águas salinas de pequena profundidade. A biodiversidade é grande: além dos flamingos e condores, é possível ver várias espécies de aves. A vida silvestre também está presente ali com os camelídeos guanacos , vicunhas e as raposas. A neve branca e eterna em cima das montanhas de tom marrom claro, parecem aquarelas e dão um toque especial à essa paisagem tão diferente do resto da viagem.

Por toda a região que percorremos foi possível observar uma enorme variedade de cactos, desde o gigante Cardon, que atinge incríveis cinco metros de altura e estava presente principalmente nas áreas montanhosas, como várias espécies menores e rasteiras que bordeavam as estradas.

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Como chegar

Existem duas opções, ir direto de avião até Mendoza e alugar um carro para percorrer a região, mas os voos geralmente fazem escala em Buenos Aires. (Preço mínimo U$320)

Ou vai de avião até Santiago (preço mínimo U$ 250) e aluga um carro para atravessar a fronteira, que mesmo tendo que providenciar a documentação para a travessia, sai mais barato do que ir por Buenos Aires e Mendoza. Recomendo alugar o carro na Chilean Rent a car, além de ser o lugar mais barato, eles também providenciam toda a documentação para você.

Onde ficar

As principais cidades para se hospedar são Uspallata (base para o Aconcágua); Barreal (base para o El leoncito) e San Agustin de Valle Fertil e Villa Union (para visitar os parques de Ischigualasto, Talampaya e a Laguna Brava). Todas essas cidades são pequenas, mas com boas opções de hospedagem, que variam entre hostais até hotéis sofisticados. E também contam com restaurantes para todos os bolsos.

Atenção: uma dica importante, leve pesos, pois existem poucos caixas eletrônicos nessas cidades, e em quase todos os lugares, você terá que pagar em dinheiro, quase ninguém oferece serviço de cartão de crédito.

Nos Parques

- No Talampaya, você necessariamente, tem que contratar um passeio no centro de visitantes, ninguém entra sem guia. São várias as opções de roteiros e transportes: de micro-ônibus, caminhões 4X4, bikes ou até trekking. E fique atento, o parque não pode ser visitado com chuva, pois o caminho todo é percorrido por um leito seco de rio, se chover ele fica alagado. http://www.talampaya.gov.ar/

- No Aconcágua, você pode entrar a pé e fazer uma caminhada de quatro horas (ida e volta) até a Laguna Horcones e ter uma boa vista do Cerro Aconcágua. Mas para caminhadas mais longas, escaladas e pernoites dentro do parque e acampamentos, só na época certa. http://www.aconcagua.mendoza.gov.ar/

- No El Leoncito, é possível entrar de carro e visitar boa parte do parque, fazer trilhas e picnics, visitar a cascata e os mirantes, só pagando a taxa de entrada, no centro de visitantes. Mas se você quiser fazer as visitas nos observatórios, será preciso agendar. Em um deles é possível inclusive se hospedar, para fazer a observação noturna das estrelas. http://www.elleoncito.gov.ar/

No Ischigualasto, também há a necessidade de guia, mas você entra em seu próprio carro e segue em comboios de 10 carros, o guia mostra as 5 estações principais do Parque e você tem ainda uma caminhada de meia hora em uma delas. http://www.ischigualasto.gov.ar/

Já na Laguna Brava, pode-se chegar sem guia, só seguindo as indicações, mas não recomendo, pois, o guia local que você contrata no departamento de turismo de Vinchina, vai te levar a lugares muito interessantes no caminho até a laguna, e te mostrar inscrições rupestres e lugares com fósseis nas rochas na beira da estrada, que sozinho você não verá. http://www.turismolarioja.gov.ar/

 

Luciana Tancredo é jornalista. Texto publicado originalmente na edição 48 da Revista Plurale.