Edição 200 - Aracaju, 16 de agosto a 13 de setembro de 2015
Fotografia
Por Lília Gianotti
Foto: Cláudia Ferreira
A Marcha das Margaridas na Esplanada dos Ministérios em Brasília
Em agosto de 2015, a Esplanada dos Ministérios vai receber mais de cem mil mulheres. Agricultoras, sem-terra, artesãs, quebradeiras de coco, seringueiras, ribeirinhas, pescadoras, quilombolas, indígenas, domésticas, operárias, professoras, de diferentes sotaques, idades, origens e etnias chegarão de todas as partes, carregando bandeiras, faixas, flores e suas crianças, com o firme propósito de apresentar mais uma pauta de reivindicações ao governo federal. Trata-se da Marcha das Margaridas, movimento feminista, criado há quinze anos, batizado em homenagem Margarida Maria Alves, líder sindical que morreu assassinada, em 1983, por defender os direitos das mulheres rurais.
Desde 2000, muitas conquistas já foram alcançadas por essas mulheres. Em todas as quatro edições da Marcha (realizadas também em 2003, 2007 e 2011), um olhar atento e especialmente comprometido registrou a história, a luta, o colorido, os rostos, as marcas, os sorrisos... Claudia Ferreira , fotógrafa e historiadora, esteve presente nas quatro. O resultado de sua entrega é o livro Marcha das Margaridas, que saí pela Editora Aeroplano, fruto de um esforço conjunto da Fundação Ford e da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Agricultura (CONTAG), já com lançamentos marcados para julho e agosto, em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro.
Marcha das Margaridas é um livro de fotografias ilustrado por textos, com curadoria do premiado fotógrafo João Roberto Ripper, que conta a história das quatro primeiras Marchas e dessas mulheres. “Eu estava lá e precisava registrar esse momento em uma época em que não existiam câmeras digitais, celulares com câmeras nem redes sociais. Não havia o que fazer de imediato com aquelas imagens, mas eu tinha a certeza de que elas eram importantes e precisavam ser guardadas”, diz Claudia.
Em 2003, a Marcha das Margaridas reuniu 50 mil mulheres, mais de 70 mil em 2007 e cerca de cem mil em 2011. Claudia continuava seguindo as margaridas, com a missão de registrar essa história que ela vira nascer e com o sonho de devolvê-la às suas protagonistas em um livro, onde elas pudessem visualizar o caminho percorrido e quanto, cada uma delas, fora importante na construção de um processo que resultou em tantas conquistas.
Sonho realizado. Em junho e agosto, o livro Marcha das Margaridas, de Claudia Ferreira, será lançado às vésperas da quinta edição da Marcha e distribuído, gratuitamente, para os quatro mil sindicatos rurais existentes no Brasil, bibliotecas, centros de pesquisa e para o maior número de mulheres do país. Além da versão impressa, um E-book, com a versão digital do livro e um PDF, ambos com acesso livre e gratuito, estarão disponíveis para quem quiser baixar.
“Este livro relata a trajetória de um movimento vibrante e vigoroso. São muitas imagens que depõem sobre a opção dessas mulheres de fazer da sua luta um elemento inegociável do seu cotidiano. O livro apresenta um jeito de lutar, que opta por ser amplo, inclusivo, participativo, colorido. Um jeito de lutar que percebe a si mesmo como ferramenta emancipatória para esta e para as próximas gerações. Um jeito de lutar que investe na relação entre as pessoas, ao mesmo tempo em que as compele à ação coletiva. É como se as Margaridas já tivessem nascido sabendo o que nos ensina Cora Coralina: o que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim teremos o que colher.”, Nilcéa Freire, Diretora da Fundação Ford no Brasil.
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Sobre a fotógrafa
Claudia Ferreira é fotojornalista e historiadora, com passagens pelas redações do Jornal do Brasil, Folha de São Paulo e Correio Braziliense, agências Sipa Press e Cone Sur press. Em 1988, começou a se interessar pelo movimento feminista. Sobre esse tema, lançou o livro Mulheres e Movimentos (Aeroplano) e realizou dez exposições individuais em Londres, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Brasília, Salvador e João Pessoa, além de várias coletivas nacionais e internacionais.
Lília Gianotti é jornalista. Texto publicado originalmente na Revista Plurale.