Edição 190 - Aracaju, 12 de outubro a 09 de novembro de 2014

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Reportagem

Serra da Canastra
A exuberância de um santuário da biodiversidade

Por Luciana Tancredo

Foto: Luciana Tancredo

Serra da Canastra: santuário da biodiversidade

 

Sonhe com o paraíso. Ou melhor, visite o paraíso. Pode parecer força de expressão, mas em se tratando da Serra da Canastra, no sudoeste de Minas Gerais, tudo parece superlativo. A exuberância nativa da região que abriga a nascente do imponente Rio São Francisco – aqui ainda quase um riacho - não deixa dúvidas que o Parque Nacional da Serra da Canastra parece ser mesmo uma amostra do que é o paraíso. Em que outro lugar poderíamos vislumbrar tanta biodiversidade?

Em nossa visita, pudemos fotografar tamanduás – inclusive a mamãe passeando com o filhote nas costas, que ilustra a capa desta edição – seriemas, gaviões, diversos pássaros, veados, o arredio lobo guará e uma infinidade de outras espécies. São tantas que os olhos parecem nem alcançar. Sem falar no leque de diferentes opções de visual: das cachoeiras e rios até as serras e vegetações baixas. E como se não bastasse, ainda tem a simpatia dos locais e a comida espetacular mineira, com destaque para o famoso queijo Canastra.

Como tudo na vida, há que se “pagar” um certo preço para ter acesso até este pedaço de paraíso. Para quem prefere o aconchego do luxo e turismo fácil, este definitivamente ainda não é um passeio acessível a todos. Para chegar é preciso cruzar estradas empoeiradas e esburacadas. Por agora, a estiagem dá uma trégua, mas se o período for de fortes chuvas, é bom se precaver se os acessos são possíveis. Atualmente, o drama é outro, com a forte seca, são constantes as queimadas, o que também pode interferir diretamente nas rotas traçadas. No entanto, com a segurança de quem já fez diversos roteiros de ecoturismo no Brasil e em outros países, posso assegurar: prepare bem a viagem, se informe bem e relaxe, este é um roteiro que vale a pena.

O acesso fica mais fácil para quem tem carros com tração 4 X 4, mas há também a opção de vir até uma cidade próxima do Parque e contratar o serviço na região.

“Temos recebido muitos ecoturistas. O acesso ainda não é realmente fácil a todos, mas a visita costuma realmente encantar quem vem aqui”, diz o administrador do Parque Nacional da Serra da Canastra, Darlan de Pádua. O geólogo conta que o projeto para tornar as estradas mais acessíveis é bem antigo, mas ainda não foi concretizado. Outro problema muito frequente na região é o fogo. “Estamos sempre debatendo e buscando soluções par o tema com os moradores da região”, diz. Nos dias 20 e 21 de novembro será a vez de mais uma rodada sobre as queimadas em São Roque de Minas.

Mas, vamos abstrair um pouco o lado “vida real” e “mergulhar” no que há de melhor na região ecoturística da Serra da Canastra. São mais de 200 mil hectares e abrange 6 municípios: São Roque de Minas, Vargem Bonita, Sacramento, Delfinópolis, São João Batista do Glória e Capitólio. A maior atração é o Parque Nacional da Serra da Canastra, criado em 1972 para proteger as nascentes do Rio São Francisco. O Parque possui variada beleza cênica, com grandes paredões de rocha e belas cachoeiras.

Dentro do Parque Nacional estão alguns dos mais belos cartões postais do Brasil, como a cachoeira Casca D'Anta, de quase 200 metros, a primeira grande queda do "Velho Chico", como é chamado carinhosamente esse rio tão importante para o Brasil.

Essa região é também berço de muitos outros rios que ajudam a formar as bacias não só do São Francisco, mas como a do Paraná. Rios cheios de corredeiras e cachoeiras belas por suas alturas e abundancia de águas.

Darlan de Pádua lembra que no Parque vivem bem protegidas espécies de animais ameaçados de extinção, como o tamanduá-bandeira, o lobo-guará, veado campeiro, tatu-canastra e o pato mergulhão. Sem falar nas cerca de 6 mil espécies vegetais, mais de oitocentas espécies de aves e quase duzentas espécies de mamíferos. O administrador destaca ainda as parcerias relevantes com diversas Universidades que ajudam a descobrir novas espécies e a pesquisar as que já existem. “Descobrimos quatro novas espécies de odonatas, mais conhecidas popularmente como libélulas”, conta.

Curiosidades

A Cachoeira Casca D’Anta tem queda livre de 186 metros. O nome vem da árvore Casca D’Anta (Drimys winteri) que, por sua vez, foi assim batizada porque que tem propriedades medicinais, cicatrizantes. Segundo os pesquisadores, a anta se esfrega no tronco da árvore para curar ferimentos superficiais. Ela pode ser visitada, tanto pela parte alta do parque, como pela parte baixa.

A frente e de forma paralela a Serra da Canastra está a Serra da a Babilônia, de igual beleza. Entre as duas serras está o imenso Vale dos Cândidos, nome dado em homenagem aos proprietários de uma antiga fazenda no local. As duas serras parecem que olham uma para a outra, e é possível fazer belas fotos Panorâmicas delas.

O produto típico mais importante da região é queijo Canastra, artesanal e feito de leite cru. Produzido há mais de duzentos anos. O clima, a altitude, os pastos nativos e as águas da Canastra dão esse queijo um sabor único: forte, meio picante, denso e encorpado.

Desde maio de 2008 o queijo canastra é patrimônio cultural imaterial brasileiro, título concedido pelo IPHAN, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Serviço

- Parque Nacional da Serra da Canastra: horário de entrada no Parque é até as 16h. Saída até as 18h. O acesso ao parque e demais atrações é por terra. As condições de tráfego, na parte alta podem ser precárias em época de chuva, e geralmente necessitam de veículo 4X4. Já parte baixa tem acesso bem mais tranquilo, por estradas de terra em boas condições o ano inteiro. O ingresso custa R$ 15 por pessoa, com desconto de 50% para brasileiros. Mais informações pelo site oficial do Parque.

- Hospedagem - As duas cidades mais perto das principais portarias de acesso ao Parque, são Vargem Bonita e São Roque de Minas, e em ambas, você pode encontrar pousadas rurais que oferecem não só hospedagem com café da manhã ou pensão completa, como passeios em carro 4X4, muito necessário para conhecer a parte alta do parque e ver os animais. Visite o portal turístico Serra da Canastra e faça uma boa pesquisa.

- Recomendo a Fazendinha da Canastra, com chalés separados, simples mas confortáveis, varandas com redes, boa comida mineira e o dono, é um ótimo guia da região, dá dicas de roteiros com mapinhas para explorar cada passeio da Canastra. Além de te levar num 4X4, se houver necessidade.

- Na hora de comprar o queijo Canastra, não se esqueça de verificar se o produtor é certificado, isso garante a qualidade de higiene em que ele foi fabricado.

 

Luciana Tancredo é jornalista. Esteve na Serra da Canastra em junho deste ano, antes do período da estiagem forte que secou a nascente do Rio São Francisco e reduziu drasticamente o volume de água nos rios da região. Colaborou Sônia Araripe. Matéria publicada na edição 42 da Revista Plurale. Título e subtítulo/BN.