Edição 187 - Aracaju, 20 de julho a 17 de agosto 2014
Pensata
Por Hilton Deives Valeriano
Para todas as formas de amor há sempre uma maneira de se compartilhar a solidão.
No amor raramente perdoamos o sentimento de vingança.
No ofício do amor os corpos transgridem o espírito.
Amor: raro enleio em meio ao incerto jogo das representações.
Sinuosidades do corpo: premissas do amor.
No sexo a carne transfigura o espírito submetendo-o. Assim, os mais íntimos desejos prevalecem sobre a moralidade e o animal vence a civilidade.
No sexo, o amor partilha apenas a desesperança de um ato incólume.
No amor pagamos tributo de nossos defeitos assim como de nossos melhores intentos.
No amor as glórias são vãs e toda sutileza um pormenor de injúrias consentidas.
No sexo, o silêncio do espírito ressoa as contrações da carne.
No sexo, o pudor é o estigma pelo qual o espírito ainda faz-se pulsar.
Como relíquias de um santuário saqueado assim são as verdades no amor.
Todos vivemos para a glória póstuma.
Nossas misérias tornam-se sempre pequenas quando delas retiramos o acréscimo de nosso egoísmo.
As desgraças alheias pouco ou nada significam, visto estarem distantes do campo restrito de nossos sentimentos. Assim, o egoísmo impede que sejamos demasiado humanos.
A essência das coisas reside no âmbito do desejo. Envolta no manto de nossas vaidades, as coisas quando despidas, pouco ou nada significam.
Seríamos trágicos se tivéssemos a consciência de todos os fatos.
O que louvamos nos outros são as prerrogativas de nossas mentiras.
Não raro, atrás de pequenas alegrias ocultam-se calamidades intermitentes.
O grau de rebaixamento a que um ser humano está sujeito depende exclusivamente de sua ambição.
Como cadáveres não sepultados a clamarem por enterro, de alguma forma nossos erros nos acompanham.
Se pudéssemos mudar o passado certamente nos tornaríamos escravos de todos os equívocos.
Hilton Deives Valeriano é formado em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas e mestre em Filosofia da Educação pela Unicamp.